quarta-feira, 27 de outubro de 2010

SOY DE GRÊMIO

Não sei como começou, nem como acabou. Do jeito que veio foi, sem deixar vestígios. O fato é que pelo menos até os 7 anos de idade, eu trocava o “e” pelo “a” quando falava as palavras. Isso gerou uma situação inusitada no meu primeiro dia de aula, no Grupo Escolar Ceará (hoje Colégio Estadual), no bairro de Teresópolis, em Porto Alegre. Cheguei atrasado e tive que ir atrás da professora junto com uma inspetora de alunos. Eram sete primeiras séries e o problema era que a moça não entendia o nome da minha professora, que era a única referência que eu tinha para encontrar a minha turma: Neusa. Pela minha pronúncia errada, todos entendiam “Nausa” e certamente não havia nenhuma professora com este nome no Grupo Escolar Ceará.

Passamos por todas as turmas de primeira série, incluindo a sala da professora Neusa, que não reconheceu o seu nome com a pronúncia errada. Na última sala, a professora teve a sacada: “Não é Neusa?”. E eu respondi, enfim compreendido: “Isso, Nausa”.

Por conta desse erro de pronúncia, todos adoravam me perguntar para que time eu torcia. “Gramio” (na verdade, Grêmio), eu respondia sem pestanejar. Não é a quantidade de vezes que eu respondi “Gramio” na primeira infância que me fez mais ou menos gremista. Curiosamente, tenho um sobrinho londrinense e gremista, o Tety, hoje com 16 anos, que tinha um problema de pronúncia semelhante com a letra “e” na primeira infância, mas foi por muito pouco tempo e ele trocava o “e” pelo “a” em palavras em que o “e” aparece como acento agudo. Descobri no dia em que ele cantou uma música com a seguinte pronúncia “a, a, a, eu acho que o bagulho a de quem tá de pá” – tradução, é, é, é, eu acho que o bagulho é de quem tá de pé).

O fato é que o Grêmio sempre esteve presente na minha vida, é um traço da minha personalidade, desde quando eu me entendo por gente. Uma das lembranças mais antigas que eu tenho é de um Carnaval no Grêmio – éramos sócios do clube –, coisa possivelmente de 1972 ou 73, no máximo. Lembro da minha mãe, do sol da tarde entrando pela janela e dos ladrilhos azuis na parede.

Nasci numa família de gremistas. Meu avô era gremista. Meu pai e meus tios, também. Minha mãe é colorada, mas isso é gene recessivo. Todos os meus irmãos, todos os meus sobrinhos. Todos, todos.

Enfim, se eu contar a história da minha vida, o Grêmio estará em várias passagens. No dia da minha colação de grau, no Moringão, em 1995, lá estava o manto sagrado embaixo da beca. Minha amiga Telma Elorza diz que eu sou fanático. Não acho. Não é porque eu tenho uma coleção com mais de 100 peças – mais de 60 camisas, todas oficiais, nenhuma pirata –, entre camisas de jogo, de treino, calções, meiões e abrigos que eu vou ser fanático. Sou Grêmio naturalmente, é um traço da minha personalidade.

4 comentários:

  1. o Tety não é londrinense, ele nasceu em Santos. Veio para cá com 3 meses.

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  2. Vou criar um do Colorado, o Glorioso Internacional. Só pra sacanear e ser contra.rsrsrsrs

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  3. Ótima história, Fábio Silveira. Na infância, o Carlos Heitor Cony trocava o "c" pelo "t"; apresentava-se como Tarlos Heitor Cony. Essas questões fonoaudiológicas são interessantes.

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  4. Ótima história, Fábio Silveira. Na infância, o Carlos Heitor Cony trocava o "c" pelo "t"; apresentava-se como Tarlos Heitor Cony. Essas questões fonoaudiológicas são interessantes.

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